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domingo, 8 de junho de 2008

O Luto de cada um

Não sei se você também, às vezes, percebe isso: de repente, um assunto qualquer, que não costuma ser discutido, invade a mídia, coincidentemente ou não. Pois aconteceu de novo. Na semana passada, li umas três matérias diferentes sobre o tempo que se leva pra "curar" um amor terminado. E em todas elas o diagnóstico era praticamente igual: de três a seis meses é o tempo considerado normal. Se depois de um ano de rompimento o sofrimento persistir, passa a ser patologia.

Se eu entendi bem, passados 180 dias de ausência daquele que a gente ama, o natural é que a gente comece a se interessar por outras pessoas e deixe de sentir dor. Em 180 dias, no máximo, você tem que chorar toda a sua perda, processar todo o seu pesar, racionalizar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Seis meses. É o prazo limite, se você tiver uma cabeça saudável.

Li, compreendi, achei sensato e confortante, mas não serve pra mim. Sou da raça das patológicas.

Nas poucas vezes em que vivi um trauma de amor, eu extrapolei o prazo dado pelas matérias de revista. Nunca me enfurnei em casa, nunca neguei o chamado da vida, fui à luta e segui vivendo, mas a dor era companheira de jornada, eu curtia um luto branco, que não aparecia para os outros, mas era sagrado pra mim e durava o tempo que eu permitia.

Talvez fosse mais honesto dizer que até hoje sofro todas as minhas perdas. Isso parece doença porque a maioria das pessoas acha que sofrer significa encharcar travesseiros e fechar-se pra vida. Sofrer e ser feliz não precisam ser incompatíveis. No meu caso, não é. Sou uma mulher privilegiada, trago as emoções e a cabeça em ordem, mas não esqueço de nada nem de ninguém. Eu me lembro de tudo. Eu valorizo tudo. Eu reverencio todos os meus grandes momentos partilhados. Eu os reconheço como legítimos e insubstituíveis, e os homenageio com minha saudade. E ai de quem me disser que isso tem data pra acabar.

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